Felicidade
"Pode não conhecer-se o triunfo.Mas pode soçobrar-se, sem que no mundo fiquem so trevas.Talvez assim nos venha acalentar a necessidade de ujm sacrificio heroico.E então, porque não falar de felicidade?
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A felicidade só pode existir como um atributo de toda a vida.Só a satisfação pela vida que se vive poderá tornar feliz.Há então que não subordinar as acções ao alcance dum prazer.Mas antes amoldar a ideia de felicidade á vida que se vive.Quando não nos sentimos meros joguetes de evolução mas, pelo contrário, sentimos que, mesmo ao de leve, as nossa energias modificam o seu ritmo.Quando sabemos ser leais, rectos e solidários.Quando amamos profunda e extensamente e nos sentimos capazes de sacrificadas demonstrações do nosso amor.Somos felizes porque não desejamos outra vida, porque sentimos preenchidos a própria função humana.
(...)
Se a felicidade é dada pela satisfação da linha de conduta, pela satisfação de que se procede bem, nada, nada, nem os gritos da própria carne esfacelada, nem lágrimas de emoção, nem a revolta instante e desesperada pode destrui-la.Porque acima dos próprios gritos, das próprias lágrimas, do próprio desespero, fica sempre a certeza de uma vida voluntariosa e independente ou - se preferir a expressão- recta, leal, digna."
Álvaro Cunhal "O Diabo", 11 de Março de 1939.
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