domingo, setembro 10

ARTUR RAMOS

Não pude evitar a emoçáo quando li este texto de despedida, escrito por Artur Ramos para ser lido no dia do seu funeral..A mim foi algo que me deixoou cheio de lágrimas...

" Você Fala
Depois do Rebello
Dois, três minutos
Não me ultrapasse os três minutos, homem!
Escusa de levar Fato preto.
A Helena estará na primeira fila, entre a sofia e a Cláudia.
Quero que todos os outros estejam calados.
Flores ao Fundo.Não me afoguem tudo com flores!
A Lourdes que não chore.
O Pedro que não resmungue.
O Charters que não diga que São João é um teatro,
mas no Porto.
Todos os sitios são, se quisermos, teatros.
E todos os teatros são espantos.
Eu estarei onde tenho de estar, em cima de uma
plantaforma.
Não exagere nos elogios.
Diga que fui militante.
Desde logo, embora não só, um militante da cultura.
Diga que eu fiz televisão:a que havia a fazer e no
negativo daquilo para a que queriam.
Diga que eu fiz teatro.
Diga que eu fiz cinema.
Diga que, dantes, os animais censuravam.
Hoje os animais não censuram.Embora continuem a
exagerar!
Diga quye eu dirigi gente.
Diga que eu fui arquitecto de gente.
Diga que eu fiz isso por causa da gente
Para libertar a gente.
È para isso que o teatro serve.
A RTP foi outra história.A RTP FOI OUTRA HISTÓRIA.
P quer dizer portuguesa!
Ou quererá dizer Portugueses?
Os textos, caramba, os textos!O Miller, o Manel da
Fonseca, o Brecht!...O Beckett!
Diga que nada desculpa ninguém e que ninguém
desculpa nada.
È também esse sentido do Pinter.
Mas diga também que o amor é uma grande exigência.
E que a ternura pode ser a mais libertadora das
indisciplinas!
Diga que eu brinquei com os meus netos.
Levei-os aos teatros que podem ser todos diga-o aí ao
Charters- e tudo e em todo o lado!
Os leões dos jardins zoológicos, quando os ponho a
ensaiar para os meus netos-entram da direita para a
esquerda.
E os palhaços dos Circos riem quando eu disser.
Os Ursos não, os ursos não! Já disse que os ursos
não entram agora..caramba!...
Se vir os meus netos mais pequenos, faça-lhes uma
festa por mim na cabeça.
Peça-lhes desculpa pela sua mão não ser a do Avô.
Diga-lhes que a voz que ouvirem dentro deles e que
lhes parece a do avô são eles que me levam vivos
dentro deles.
Eu agora aqui, pelos vistos,vou ter muito trabalho.
Aqui, como eu já sabia, ninguém tem asas nas costas, e
niguém sabe o seu papel!
Aí, uma última coisa, uma última coisa!...Votem
Bem!...!Eu sei do que falo, eu nasci em 26!"

ARTUR RAMOS

2 Comments:

At domingo, 10 setembro, 2006, Anonymous Anónimo said...

Nesta última Festa do Avante no “Avanteatro”, foi prestada homenagem ao grande homem da cultura e militante comunista. Lembro-me de ter visto na RTP, Tchecov, Molière, Gil Vicente, entre tantos outros teatros dirigidos por Artur Ramos.
A belissima Carta emociona todos aqueles que a lêem. Artur Ramos, Foi uma força viva da cultura.

PC
Espero que as férias tenham sido repousantes!
Mais uma vez agradeço a tuas palavras sempre simpáticas. Pois se achares que as minhas palavras não ficarão a mais, neste teu magnifico blog, é para mim um privilégio!

Um abraço, tão forte e grandioso como a nossa 30ª Festa do Avante!

GR

 
At sexta-feira, 09 novembro, 2007, Anonymous Anónimo said...

Este texto é uma homenagem a Artur Ramos.
Colocando-o embora como personagem.

 

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