quarta-feira, julho 6

"O aborto clandestino em Portugal – um flagelo"

(...)"Parece verdadeiramente extraordinário que até hoje praticamente ninguém em Portugal se tenha debruçado a estudar a relação entre o recurso ao aborto, com os gravíssimos riscos, incluindo o da morte, de um tão elevado número de mulheres, e as condições económicas e sociais existentes. A feroz exploração dos trabalhadores, nomeadamente das mulheres, com violenta repressão das suas justas reclamações. Perseguições, prisões, condenações. Os salários de miséria. A completa desprotecção das mulheres na gravidez e no parto. O ferrete da imerecida indignidade com que a sociedade castiga as mães solteiras e os filhos "ilegítimos". O abandono a que são votadas as crianças. As desumanas condições de habitação, das quais mesmo em Lisboa, capital do país, se encontram gritantes testemunhos nas rendas inacessíveis das "gaiolas" das Avenidas ou de Campo de Ourique e nos milhares de famílias forçadas a viver nas condições por vezes sub-humanas nos bairros de lata do Rego e de Chelas e nas furnas e barracas de Monsanto.O Estado e a sociedade condenam as mulheres por um crime quando, se crimes existem, são os crimes do próprio Estado e da própria sociedade capitalista."

"[in O Aborto. Causas e soluções, Porto: Campo das Letras, 1997, pp. 95-98Tese final de lic. apresentada em 1940 para exame no 5º ano jurídico da Faculdade de Direito de Lisboa, defendida sob escolta quando preso]"

1 Comments:

At segunda-feira, 11 julho, 2005, Blogger ines silva said...

falta ai o nome do autor, embora eu saiba quem é.

 

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