quinta-feira, outubro 26

CARTA II

Alguem a escreveu e mandou-me o mail..não resisti..


CARTA ABERTA AO BES


"Exmos Senhores Administradores do BES

Gostaria de saber se os senhores aceitariam pagar uma taxa, uma pequena taxa
mensal, pela existência da padaria na esquina da v/. rua, ou pela existência

do posto de gasolina ou da farmácia ou da tabacaria, ou de qualquer outro
desses serviços indispensáveis ao nosso dia-a-dia.

Funcionaria desta forma: todos os meses os senhores e todos os usuários,
pagariam uma pequena taxa para a manutenção dos serviços (padaria, farmácia,

mecânico, tabacaria, frutaria, etc.). Uma taxa que não garantiria nenhum
direito extraordinário ao utilizador. Serviria apenas para enriquecer os
proprietários sob a alegação de que serviria para manter um serviço de alta
qualidade ou para amortizar investimentos. Por qualquer produto adquirido
(um pão, um remédio, uns litros de combustível, etc.) o usuário pagaria os
preços de mercado ou, dependendo do produto, até ligeiramente acima do preço

de mercado.

Que tal?

Pois, ontem saí do meu BES com a certeza que os senhores concordariam com
tais taxas. Por uma questão de equidade e de honestidade. A minha certeza
deriva de um raciocínio simples.

Vamos imaginar a seguinte situação: eu vou à padaria para comprar um pão. O
padeiro atende-me muito gentilmente, vende o pão e cobra o serviço de
embrulhar ou ensacar o pão, assim como, todo e qualquer outro serviço. Além
disso, impõe-me taxas. Uma "taxa de acesso ao pão", outra "taxa por guardar
pão quente" e ainda uma "taxa de abertura da padaria". Tudo com muita
cordialidade e muito profissionalismo, claro.

Fazendo uma comparação que talvez os padeiros não concordem, foi o que
ocorreu comigo no meu Banco. Financiei um carro. Ou seja, comprei um produto
do negócio bancário. Os senhores cobraram-me preços de mercado. Assim como o

padeiro cobra-me o preço de mercado pelo pão.
Entretanto, de forma diferente do padeiro, os senhores não se satisfazem
cobrando-me apenas pelo produto que adquiri. Para ter acesso ao produto do
v/. negócio, os senhores cobraram-me uma "taxa de abertura de crédito" -
equivalente àquela hipotética "taxa de acesso ao pão", que os senhores
certamente achariam um absurdo e se negariam a pagar.

Não satisfeitos, para ter acesso ao pão, digo, ao financiamento, fui
obrigado a abrir uma conta corrente no v/. Banco. Para que isso fosse
possível, os senhores cobraram-me uma "taxa de abertura de conta". Como só é
possível fazer negócios com os senhores depois de abrir uma conta, essa
"taxa de abertura de conta" se assemelharia a uma "taxa de abertura da
padaria", pois, só é possível fazer negócios com o padeiro, depois de abrir
a padaria.

Antigamente, os empréstimos bancários eram popularmente conhecidos como
"Papagaios". Para gerir o "papagaio", alguns gerentes sem escrúpulos
cobravam "por fora", o que era devido. Fiquei com a impressão que o Banco
resolveu antecipar-se aos gerentes sem escrúpulos.

Agora ao contrário de "por fora" temos muitos "por dentro".

Pedi um extracto da minha conta - um único extracto no mês - os senhores
cobraram-me uma taxa de 1?.

Olhando o extracto, descobri uma outra taxa de 5? "para a manutenção da
conta" - semelhante àquela "taxa pela existência da padaria na esquina da
rua".

A surpresa não acabou: descobri outra taxa de 25? a cada trimestre - uma
taxa para manter um limite especial que não me dá nenhum direito. Se eu
utilizar o limite especial vou pagar os juros mais altos do mundo.
Semelhante àquela "taxa por guardar o pão quente".

Mas, os senhores são insaciáveis.

A prestável funcionária que me atendeu, entregou-me um desdobrável onde sou
informado que me cobrarão taxas por todo e qualquer movimento que eu fizer.

Cordialmente, retribuindo tanta gentileza, gostaria de alertar que os
senhores se devem ter esquecido de cobrar o ar que respirei enquanto estive
nas instalações do v/. Banco.

Por favor, esclareçam-me uma dúvida: até agora não sei se comprei um
financiamento ou se vendi a alma?

Depois que eu pagar as taxas correspondentes, talvez os senhores me
respondam informando, muito cordial e profissionalmente, que um serviço
bancário é muito diferente de uma padaria. Que a v/. responsabilidade é
muito grande, que existem inúmeras exigências legais, que os riscos do
negócio são muito elevados, etc, etc, etc. e que apesar de lamentarem muito
e nada poderem fazer, tudo o que estão a cobrar está devidamente coberto por
lei, regulamentado e autorizado pelo Banco de Portugal.

Sei disso.

Como sei, também, que existem seguros e garantias legais que protegem o v/.
negócio de todo e qualquer risco. Presumo que os riscos de uma padaria, que
não conta com o poder de influência dos senhores, talvez sejam muito mais
elevados.

Sei que são legais. Mas, também sei que são imorais. Por mais que estejam
protegidos pelas leis, tais taxas são uma imoralidade.

O cartel algum dia vai acabar e cá estaremos depois para cobrar da mesma
forma."
      
André Queirós

segunda-feira, outubro 23

CARTA


"Nego-me a servir no exército pois desta maneira protesto contra a prolongada ocupação militar do povo palestino. Esta desumana ocupação persiste, semeando o ódio e o terror entre os dois povos. Nego-me a servir uma ideologia que não reconhece o direito dos povos à auto-determinação e à coexistência pacífica. Não estou disposto a contribuir para a opressão sistemática da população civil, para a implantação de um regime de apartheid nos territórios palestinos. Sinto profunda vergonha pela acção militar israelense nesses territórios e repugna-me a fome que se faz passar a muitos e as humilhações nos postos de controle. Nego-me a servir de cobaia das indústrias do armamento, das grandes corporações, dos empreiteiros exploradores de todo tipo, que semeiam o racismo e que se servem de líderes cínicos para aumentar seus lucros à custa do sofrimento dos povos e da negacção dos direitos humanos mais básicos. Nego-me a matar! Nego-me a ocupar!"

A carta é de Omri Evron, de Tel Aviv, que está sob prisão preventiva numa base militar. Evron, militante da Juventude Comunista, está sujeito a uma longa sentença. Decorrem manifestações de solidariedade para com o jovem em frente ao quartel onde está detido.

in http://resistir.info

FERNANDO LOPES GRAÇA

ouçam algumas delas..

http://webserver.cm-lisboa.pt/fonoteca/cgi-bin/info3.pl?4442&CD&0

domingo, outubro 22

Liberdade

"Queremos todos ajudar-nos uns aos outros. Os seres humanos são assim. Queremos viver a felicidade dos outros e não a sua infelicidade. Não queremos odiar nem desprezar ninguém. Neste mundo há lugar para toda a gente. E a boa terra é rica e pode prover às necessidades de todos.
O caminho da vida pode ser livre e belo, mas desviámo-nos do caminho. A cupidez envenenou a alma humana, ergueu no mundo barreiras de ódio, fez-nos marchar a passo de ganso para a desgraça e a carnificina. Descobrimos a velocidade, mas prendemo-nos demasiado a ela. A máquina que produz a abundância empobreceu-nos. A nossa ciência tornou-nos cínicos; a nossa inteligência, cruéis e impiedosos. Pensamos de mais e sentimos de menos. Precisamos mais de humanidade que de máquinas. Se temos necessidade de inteligência, temos ainda mais necessidade de bondade e doçura. Sem estas qualidades, a vida será violenta e tudo estará perdido. O avião e a rádio aproximaram-nos. A própria natureza destes inventos é um apelo à fraternidade universal, à união de todos. Neste momento, a minha voz alcança milhões de pessoas através do mundo, milhões de homens sem esperança, de mulheres, de crianças, vítimas dum sistema que leva os homens a torturar e a prender pessoas inocentes. Àqueles que podem ouvir-me, digo: Não desesperem. A desgraça que nos oprime não provém senão da cupidez, do azedume dos homens que têm receio de ver a humanidade progredir. O ódio dos homens há-de passar, e os ditadores morrem, e o poder que tiraram ao povo, o povo retomá-lo-à. Enquanto os homens morrerem, a liberdade não perecerá. "

Charles Chaplin, in 'Discurso final de «O Grande Ditador»'

quinta-feira, outubro 19

Dificuldade de Governar

"
Todos os dias os ministros dizem ao povo
Como é difícil governar. Sem os ministros
O trigo cresceria para baixo em vez de crescer para cima.
Nem um pedaço de carvão sairia das minas
Se o chanceler não fosse tão inteligente. Sem o ministro da Propaganda
Mais nenhuma mulher poderia ficar grávida. Sem o ministro da Guerra
Nunca mais haveria guerra. E atrever-se ia a nascer o sol
Sem a autorização do Führer?
Não é nada provável e se o fosse
Ele nasceria por certo fora do lugar.

.
E também difícil, ao que nos é dito,
Dirigir uma fábrica. Sem o patrão
As paredes cairiam e as máquinas encher-se-iam de ferrugem.
Se algures fizessem um arado
Ele nunca chegaria ao campo sem
As palavras avisadas do industrial aos camponeses: quem,
De outro modo, poderia falar-lhes na existência de arados? E que
Seria da propriedade rural sem o proprietário rural?
Não há dúvida nenhuma que se semearia centeio onde já havia batatas.

Se governar fosse fácil
Não havia necessidade de espíritos tão esclarecidos como o do Führer.
Se o operário soubesse usar a sua máquina
E se o camponês soubesse distinguir um campo de uma forma para tortas
Não haveria necessidade de patrões nem de proprietários.
E só porque toda a gente é tão estúpida
Que há necessidade de alguns tão inteligentes.


Ou será que
Governar só é assim tão difícil porque a exploração e a mentira
São coisas que custam a aprender?
"

Bertolt Brecht

terça-feira, outubro 17

Luta!

"Somos apenas a raiva que sentimos quando nos expulsaram das nossas terras, quando o tractor derrubou as nossas casas.E assim seremos até a morte.Para a Califórnia ou para outra região qualquer-cada um de nós é um tambor a dirigir uma carga de amarguras, caminhando com a nossa desgraça.E, algum dia, os exércitos da amargura irão pelo mesmo caminho.E todos caminharão juntos, e haverá, então, um terror de morte"

John Steinbeck, em "As Vinhas da Ira"